Quando pensamos em tomada de decisões, muitas vezes acreditamos que nossas escolhas são fruto de análises lógicas e racionais. Caso você seja uma das pessoas que pense assim, fique tranquilo! Muitos economistas tradicionais têm essa ideia, na qual as nossas escolhas são eficientes e previsíveis ao longo do tempo, que podemos maximizar a utilidade das nossas decisões. Em tempo: para quem imagina que a Economia Comportamental vem “desmentir” ou “substituir” as teorias econômicas tradicionais, absolutamente não é isso. Podemos sim afirmar que ela vem a dar uma visão mais realista do comportamento humano.
A Economia Comportamental revela que o processo de tomada de decisões é mais complexo e frequentemente influenciado por fatores emocionais, sociais, culturais, muitas vezes sendo automáticos e intuitivos. Essa abordagem se baseia em grande parte nos conceitos de Sistema 1 e Sistema 2, tornados populares pelo psicólogo Daniel Kahneman (vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002), que teve como grande colega de pesquisa o renomado Amos Tversky,
Nota: Diferente do que as vezes é publicado, não foi Kahneman que iniciou o estudo desse sistema dual, embora ele tenha sido fundamental com seus estudos e para sua popularização.
O que são o Sistema 1 e o Sistema 2
Sistema 1: “Rápido”
O Sistema 1 é rápido, intuitivo, associativo e automático. Ele é responsável pelas decisões que tomamos sem grande esforço consciente, como reconhecer rostos, reagir a uma situação de perigo ou resolver questões matemáticas simples (por ex.: 2+2 = 4). Esse sistema é eficiente porque consome menos energia cognitiva, mas também está mais sujeito a vieses e erros. Estima-se que mais de 90% das nossas decisões são em nível inconsciente.
Sistema 2: “Devagar”
O Sistema 2 é mais lento, deliberado, reflexivo e analítico. Ele entra em ação quando enfrentamos problemas complexos ou desconhecidos, como resolver uma equação matemática, planejar a compra de um carro ou decidir sobre um investimento significativo. Apesar de ser mais preciso, o Sistema 2 é energeticamente exigente e costuma ser evitado pelo cérebro sempre que possível.
Como os dois sistemas influenciam nossas decisões econômicas
Na prática, os dois sistemas interagem constantemente e influenciam nossas escolhas financeiras, de consumo, negociações e julgamentos que fazemos. Vejamos alguns exemplos:
Compras por impulso (Sistema 1)
Promoções relâmpago, embalagens atraentes e palavras como “desconto” ou “oferta” ativam o Sistema 1, levando às chamadas compras por impulso. Nesses casos, a análise racional (Sistema 2) frequentemente é deixada de lado. Importante: Agora você já sabe! (provável que já soubesse) Evite comprar em promoções e estados afetados de emoção.
Planejamento financeiro (Sistema 2)
Decidir como economizar para a aposentadoria ou qual seguro contratar exige uma análise cuidadosa, considerando riscos, cenários futuros e prioridades. Aqui, o Sistema 2 é essencial. Importante: Fazer poupança ou investir também é afetado pelo Sistema 1, ou seja, é fundamental analisar racionalmente as opções e sempre buscar mais informações. Acha mesmo que as instituições financeiras não se utilizam de táticas para que você decida com base no seu Sistema 1?
Vieses cognitivos
Mesmo em situações que deveriam acionar o Sistema 2, os vieses originados no Sistema 1 podem influenciar negativamente as decisões. Por exemplo, o viés de confirmação pode levar investidores a buscar apenas informações que sustentem suas opiniões preexistentes, em outras palavras: este viés de confirmação é a tendência em reforçar naquilo que já acreditamos, ignorando informações que possam contestar nossas crenças, isso te lembra alguém (e quem entre nós… quem nunca)?
Em tempo: Processamento 1 e Processamento 2
Para que não haja mal-entendidos, é interessante frisar que estamos falando na verdade de processamento de informações, sendo que didaticamente pode ser mais fácil compreender por Sistema 1 e Sistema 2, mas que esses processos não estão divididos por hemisférios cerebrais (Sistema 1 de um lado, Sistema 2 do outro lado), sendo que nem percebemos, na maior parte do tempo, qual tipo de processamento (“sistema”) estamos utilizando.
Como se beneficiar conhecendo esses dois sistemas?
Uma das grandes lições da Economia Comportamental é entender que podemos operar prioritariamente no Sistema 1 ou no Sistema 2, dependendo do contexto e complexidade das nossas decisões.
Mais dicas
Em decisões importantes, como compras de alto valor ou negociações contratuais, dê um tempo antes de agir. Isso permite que o Sistema 2 entre em ação. Vai fazer uma compra de valor significativo no shopping? Faça um lanche antes, deixe a carteira no carro, deixe para comprar outro dia. Resultado? Muitas vezes você muda de ideia e evita compras desnecessárias.
Conhecer as armadilhas cognitivas comuns ajuda a identificá-las no dia a dia. Você é um ser humano, normalmente influenciado por emoções, pelas outras pessoas e o contexto ao seu redor. Existem pessoas que podem ser mais “racionais”? Sim, com certeza. Mas para citar uma frase do economista comportamental Richard Thaler (Nobel de Economia em 2017) após receber o seu prêmio: “Vou gastar meu dinheiro o mais irracionalmente possível”, em tom de brincadeira (mas nem tanto).
Automatize boas práticas: Use o Sistema 1 a seu favor automatizando comportamentos benéficos, como definir transferências automáticas para a poupança. Seu cérebro busca “poupar” energia, facilite as coisas, compre e deixe visível alimentos mais saudáveis.
Entender os Sistemas 1 e 2 é fundamental para quem deseja melhorar suas decisões pessoais e profissionais. Quer aprender muito mais? Pega essa dica de livro: RÁPIDO E DEVAGAR
Duas formas de pensar.
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